A Bolívia enfrenta problemas sociais e econômicos coloniais. O
país convive com os constantes enfrentamentos, manifestações, paralisações dos
serviços públicos, greves, precariedade do transporte público. O que na maioria
das vezes ocorre de forma bastante agressiva.
Outro grande problema enfrentado pelo país é a dificuldade de
consenso (e até mesmo de diálogo) entre o próprio povo boliviano. Devido à
imensa diversificação étnica que compõem a Bolívia. A Bolívia é um país de
sentimento radicalista histórico. E esse fator sempre foi uma imensa barreira
que afetou diretamente a governabilidade do país.
Apesar disso, ainda há assuntos e ações que unem (politicamente) o
povo boliviano. E uma dessas grandes (e únicas) forças são os movimentos
sociais. Na Bolívia os movimentos sociais atuam como braço direito da
Presidência da República, e sem eles o país se torna ingovernável. E,
estrategicamente, são importantes por estarem alocados entre o Governo e a
população.
Mas devemos questionar se esta “dependência” do governo com os
movimentos sociais são benéficas e viáveis para o país se analisado sob três
pilares importantes: a estabilidade política, a democracia e o desenvolvimento
social e econômico. Vale à pena refletir, já que o histórico político boliviano
sempre demonstrou o oposto. E as bases políticas bolivianas (secularmente)
continuam as mesmas.
A diversidade étnica é um assunto tão delicado que é responsável
pelas maiores contendas da política boliviana. Tanto que se estende pelos
movimentos cívico-comunitários (como são chamados os movimentos sociais na
Bolívia). A FEJUVE, que é um movimento social da Província de El Alto, tem como
escopo defender a classe camponesa. E seu maior objetivo é elege
(democraticamente) um camponês para o governo da província. Alegavam que
somente assim haverá políticas públicas que atendam os interesses dos
camponeses.
Os camponeses afirmam que “o atual governo provinciano não tem
cumprido com as suas promessas, não tem atendido os anseios dos movimentos
sociais e nem dos camponeses. E acusam o governador de ter ligações políticas
com os neoliberais”. Os camponeses não aceitam o atual governo, e caso o
governo provinciano não renuncie garantem que irão para o enfretamento. E se
preciso farão uma guerra civil.
Os camponeses afirmam que os governos neoliberais deram aos
bolivianos o trágico título de “pobres das Américas”. E por
acreditarem na força dos movimentos sociais lutam para tirar os neoliberais do
poder. Mas a tragédia social e econômica boliviana seria por culpa exclusiva
dos neoliberais que governaram o país, apesar de seu histórico?
O Plan 300, região dominada pelo grupo étnico ponchos
vermelhos situado no
Estado de Santa Cruz, foi criado (teoricamente) para tirar pessoas de zonas de
risco e para oferecer uma moradia aos sem teto. Mas o seu histórico condena
esta afirmativa. A população foi colocada em uma região isolada do meio urbano,
sem qualquer infraestrutura e à margem da miséria. Hoje vivem na região cerca
de 200 mil habitantes.
Na Província de Santa Cruz os bolivianos
reclamam que “o governo não respeita as oligarquias (que
é composta por empresários), que sempre tiveram no poder”. Região
opositora ao Governo Morales, onde a imprensa local diariamente faz duras
críticas ao governo, os ponchos vermelhos resumem Evo Morales como “um
índio ignorante, sem estudos, e que além de péssimo profissional é bastante
incompetente”. Dizem ainda que “Morales é um homem arrogante e rancoroso.
Que espalha o seu rancor pelo povo boliviano. Os bolivianos não têm culpa do
seu passado pobre, sem oportunidade, sem estrutura cultural e educacional. Não
foi isso que os bolivianos elegeram para si”.
Os ponchos vermelhos temem que o Governo Morales culmine em
uma guerra civil. O país enfrenta graves problemas no que tange as garantias
individuais e coletivas, inclusive de cidadania. Para os bolivianos da
província o país enfrenta bastante dificuldade para se estabilizar (em todos os
aspectos). O que é perceptível na Bolívia é que se trata de um país em
constante formação.
Na capital La Paz os bolivianos constantemente estão em
enfretamento com o governo. Por se tratar do centro político do país todas as
forças cívico-comunitárias, além dos diversos grupos étnicos se concentram na
Capital boliviana para reivindicarem suas necessidades e também cobrarem
promessas de campanha. A cidade é uma verdadeira uma bomba relógio.
Nesta breve análise percebemos que nos quatro cantos da Bolívia os
movimentos sociais bolivianos não sabem definir bem o que ou qual seria a
melhor política para o país. Não conseguem conviver com a diversidade étnica. O
que percebemos é que os movimentos sociais querem sempre ter carta branca no
governo, mas apenas para defender seus interesses étnicos. E nunca para
defender os interesses do povo bolivianos de modo geral.
A perspectiva dos bolivianos é muito baixa no que se refere às
questões sociais e econômicas do país. E assim se mantém pelo fato de terem
ciência de que pouco está sendo feito pelo Governo Morales. E que o presidente
tem feito uma administração que atende apenas aos interesses neoliberais. E
ainda não conseguiu demonstrar porque veio.
O presidente Evo Morales tem se mostrado um homem ambíguo. Ora tem
feito discursos de extrema esquerda. Outrora tem tomado atitudes governamentais
de extrema direita. Evo Morales parece ser um curinga. Atua da forma que melhor
lhe convier. O que vale é ser espalhafatoso. E nuca ser discreto. Não apenas
nas vestes. Mas, principalmente, em sua política internacional. Tornou-se um
ícone indígena, mas não um ícone boliviano.
Na Conferência da Unisul Evo Morales se portou como um chavista
desequilibrado quando fez várias acusações contra a ALCA e contra os Estados
Unidos, inclusive chamando-a de “Área de Livre Colonização das Américas”.
Em outra atitude de extrema esquerda realizou um processo de estatização de
inúmeras empresas estrangeiras por todo o país, como ocorreu com a empresa de
gás da Petrobrás.
O mais interessante é que em seus deslizes administrativos o
presidente Morales faz alegações se dizendo refém da extrema direita. E quando
não consegue executar planos econômicos ou mesmo social (se é que eles existem
de fato) defende-se na sombra do neoliberalismo. A incógnita Evo Morales está
saindo de cena. Mas os seus fanáticos seguidores parecem que não. Acham muito
pouco o mandato de cinco anos para Morales (já que na Bolívia não é permitido
reeleição).
Mas o que é Evo Morales? Para quem o presidente Morales tem
governado realmente? Porque em quatro anos Morales não conseguiu dar uma
direção política ao seu governo? O que falta a Moraes? Menos clientelismo?
Menos populismo? Isso somente os bolivianos poderão dizer.
Os líderes dos movimentos sociais têm uma adoração por Evo. Por
ser o primeiro representante indígena? Por ser de província? Ou por ser o
presidente mais ligado aos movimentos sociais? O que se vê na Bolívia é um
triste histórico político-social. Há uma colonial disputa política. De um lado
a esquerda. Do outro o neoliberalismo. Em um país onde ambos conquistaram
vitórias políticas e os bolivianos sempre saíram derrotados. E quando os
bolivianos são questionados de porque mesmo assim confiar no presidente Evo
Morales, a resposta é uma só: “Porque não enxergamos um novo líder para o
nosso país!”.