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sábado, 15 de outubro de 2011

Antonio Houaiss: Exemplo de professor, educador e educacionista


Johnathan Ferreira

"Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro." (D. Pedro II)

O termo professor foi muito bem definido pelo carioca Antonio Houaiss, que diz ser “a pessoa que ensina uma arte, uma ciência, uma técnica, uma disciplina” ou “o indivíduo especializado em algo”.

O professor Antonio Houaiss foi um verdadeiro intelectual brasileiro. Começou a lecionar muito jovem, com apenas 16 anos de idade dava aulas de língua portuguesa. Houaiss exerceu inúmeras atividades em sua vida foi filólogo, lexicógrafo, escritor, tradutor, enciclopedista, crítico literário, etimólogo, ensaísta e diplomata de carreira. Também ocupou diversos cargos importantes, como o de Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ministro da Cultura no Governo Itamar Franco, e Membro da Academia de Ciências de Lisboa, em Portugal.

Aluno de escola pública Antonio Houaiss licenciou-se em Letras Clássicas na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil e se dedicou ao latim e ao grego clássico. Houaiss não lecionou apenas português, mas também latim e literatura no magistério secundário oficial do Rio de Janeiro (à época Distrito Federal), onde mais tarde pediu exoneração para dedicar-se a diplomacia.

A Revista VEJA chegou a publicar em um de suas edições que Antonio Houaiss foi “o maior estudioso das palavras da Língua Portuguesa nos tempos modernos”. O professor Antonio Houaiss publicou as duas mais importantes enciclopédias feitas em nosso país: a Delta-Larousse (1972) e a Mirador Internacional (1976), além de dois dicionários bilíngües, a organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras e a tradução do romance Ulisses de James Joyce.

Em sua carreira diplomática ocupou espaços importantes como vice-cônsul do Consulado Geral do Brasil em Genebra, Suíça (1947), integrando representações brasileiras a assembléias gerais das Nações Unidas, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial de Refugiados (OMR). Foi terceiro secretário da Embaixada no Brasil em Santo Domingo, República Dominicana (1949) e em Atenas, Grécia (1951). Foi primeiro secretário e depois ministro de segunda classe da delegação permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas em Nova York, Estados Unidos (1960), além de membro da Comissão de Anistia de Presos Políticos de Ruanda-Urundi que em Usumbura examinou os processos de 1.220 presos políticos, anistiados todos pela Assembléia Geral das Nações Unidas por proposta da referida comissão (1962). Em 1963 foi relator da IV Comissão da Assembléia Geral das Nações Unidas (tutela e territórios não-autônomos).

O grande fascínio do professor Houaiss foi escrever o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, projeto iniciado em 1986 com Mauro de Salles Villar. E não conseguiu concluí-lo antes de sua morte (1999), e, mesmo assim, publicou o dicionário mais completo da nossa língua, dedicando-o aos seus leitores. Hoje todas as obras de Antonio Houaiss estão reunidas no Instituto Antonio Houaiss de Lexicografia, no Rio de Janeiro. E na Sociedade Houaiss de Edições Culturais, em Lisboa, Portugal.

Antonio Houaiss foi o 5º ocupante da cadeira 17 da ABL, sucedendo outro professor, o pernambucano Álvaro Lins. E no ano de 1996 presidiu a Academia Brasileira de Letras. Houaiss foi sucedido por Affonso Arinos, que o precedeu no Ministério da Cultura.

O professor Houaiss considera a língua como “um instrumento vivo e em permanente processo de desenvolvimento, aceitando suas manifestações de renovação e de modernização, e também entendia que entre as tendências aristocratizantes e anarquizantes da língua, uma via democrática que permita sua compreensão, seu estudo e sua evolução.

Como o saudoso educador e Senador da República Cristovam Buarque (PDT-DF) disse: “o Brasil está cheio de educacionistas, adjetivo que ainda não existe nos nossos dicionários; militantes do educacionismo, substantivo que os nossos dicionários ainda não adotaram, mas já tem significado: a doutrina que considera a educação como vetor fundamental do progresso defende que a utopia não vem da desapropriação do capital dos patrões para os empregados, mas sim de colocar os filhos dos empregados na mesma escola dos filhos do patrão”.

Cristovam está certo. Existem grandes personalidades brasileiras que hoje se dedicam ao educacionismo em nosso país, como: Antonio Hermínio de Morais, Jorge Gerdau, Denise Valente, Viviane Senna, Antonio Oliveira Santos, dentre outros. Também é sempre bom lembrarmos aqueles que tanto contribuíram para o educacionismo no Brasil, como: Edgar Roquette-Pinto, Eduardo Portella, Roberto Marinho e Anísio Teixeira.

O grande problema enfrentado (em meio de muitos) pela educação em nosso país é a escassez de educacionistas. Somos fartos de excelentes professores e educadores, mas a ausência de pessoas que acreditam que o educacionismo irá levar o nossos jovens a verdadeira riqueza, a riqueza intelectual, educacional e cultural. Os nossos jovens carregam um fardo colonial, o fardo da falta de oportunidade, da ausência de uma educação de qualidade, do acesso à cultura.

E esse fardo tem levado cada vez mais os nossos jovens à criminalidade, ao mundo da drogadição, da falência da instituição familiar, e outros fatores que acarretam a destruição de nossa juventude. É preciso deixar as utopias de lado e passarmos a exigirmos maior rigor e transparência na aplicação dos investimentos na educação, melhores e mais atuais programas, diretrizes e bases da Educação, a valorização dos profissionais da Educação e uma verdadeira democratização do ensino público no nível superior.

Encerro, após narrar a história de um exemplar educador, prestando a minha singela homenagem a todos os professores, educadores e educacionistas que se dedicam diuturnamente a melhor qualidade de ensino. E que devem, acima de tudo, serem valorizados pela importância de suas funções na evolução e no crescimento do povo e do país. Parabéns, professor brasileiro!

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